O livro tem como idéia central conhecer o conhecer através de um approach nem representacionista (o mundo como representações mentais) nem solipsista (concepção da filosofia clássica segundo o qual só existe a interioridade de cada um), mas da contabilidade lógica a partir da observação da ontogenia de uma unidade autopoiética (dinâmica interna + interação):
Como observadores, podemos ver uma unidade em domínios diferentes, a depender das distinções que fizermos. Assim, por um lado podemos considerar um sistema no domínio de funcionamento de seus componentes, no âmbito de seus estados internos e modificações estruturais. Partindo desse modo de operar, para a dinâmica interna do sistema o ambiente não existe, é irrelevante. Por outro lado, também podemos considerar uma unidade segundo suas interações com o meio, e descrever a história de suas inter-relações com ele. Nessa perspectiva – na qual o observador pode estabelecer relações entre certas características do meio e o comportamento da unidade – a dinâmica interna desta é irrelevante (p. 150 e 151).
[…] Nenhum desses dois domínios possíveis de descrição é problemático em si. Ambos são necessários para o pleno entendimento de uma unidade. É o observador que os correlaciona a partir de sua perspectiva externa (p. 151).
[…] O êxito ou fracasso de uma conduta são sempre definidos pelo âmbito de expectativas especificadas pelo observador (p. 154).
Os autores partem da premissa que a certeza é uma ilusão: “toda experiência de certeza é um fenômeno individual cego em relação ao ato cognitivo do outro, numa solidão que […] só é transcendida no mundo que criamos junto com ele.” (p. 22). Considera ainda que o fenômeno do conhecer é indissociável da nossa experiência de mundo: “não se pode tomar o fenômeno do conhecer como se houvesse ‘fatos’ ou objetos lá fora, que alguém capta e introduz na cabeça. A experiência de qualquer coisa lá fora é validada de uma maneira particular pela estrutura humana, que torna possível ‘a coisa’ que surge na descrição” (p. 31). Trecho essencial do livro (p. 108 e 109):
Como observadores, distinguimos a unidade que é o ser vivo de seu pano de fundo e o caracterizamos com uma determinada organização. Com isso, optamos por distinguir duas estruturas, que serão consideradas operacionalmente independentes entre si – o ser vivo e o meio – e entre as quais ocorre uma congruência estrutural necessária (caso contrário a unidade desaparece). Nessa congruência estrutural, uma perturbação no meio não contém em si uma especificação de seus efeitos sobre o ser vivo. Este, por meio de sua estrutura, é que determina quais as mudanças que ocorrerão em resposta. Essa interação não é instrutiva, porque não determina quais serão seus efeitos. Por isso, usamos a expressão desencadear um efeito, e com ela queremos dizer que as mudanças que resultam da interação entre o ser vivo e o meio são desencadeadas pelo agente perturbador e determinadas pela estrutura do sistema perturbado. […] como cientistas, só podemos tratar com unidades estruturalmente determinadas. Isto é: só podemos lidar com sistemas nos quais todas as modificações estão determinadas por sua estrutura – seja ela qual for –, e nos quais essas modificações estruturais ocorram como resultado de sua própria dinâmica, ou sejam desencadeadas por suas interações.
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